Em maio de 2025, o governo federal anunciou mudanças expressivas no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, já em vigor, visa ampliar a arrecadação pública, com expectativa de gerar R$ 20,5 bilhões adicionais ainda neste ano e R$ 41 bilhões em 2026. No entanto, seus efeitos vão muito além da receita: o impacto é direto na rotina financeira de consumidores e na estrutura de custos do mercado de crédito, especialmente para micro, pequenas e médias empresas.
Mudanças no IOF em pauta: por que ele foi alterado e o que isso representa?
O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é um tributo federal cobrado sobre operações de crédito, câmbio, seguros e investimentos. Ele serve como uma ferramenta tanto de arrecadação quanto de regulação econômica, permitindo ao governo ajustar o acesso ao crédito e o fluxo de capitais no país.
O aumento do IOF faz parte de uma estratégia do governo para recompor o orçamento público em meio a um cenário de estagnação econômica e limitações fiscais. Dessa forma, o objetivo é elevar a arrecadação sem tributar diretamente o consumo popular. Segundo o Ministério da Fazenda, o ajuste também corrige distorções, aumenta a igualdade entre diferentes tipos de transações financeiras e fecha brechas que eram aproveitadas por investidores de alta renda, como no caso do VGBL — um tipo de plano de previdência privada usado por quem deseja acumular patrimônio com benefícios fiscais, e que, até então, era utilizado como investimento com baixa tributação.
Além disso, a mudança interrompe o plano anterior de redução gradual do IOF sobre câmbio até 2028, fixando uma nova alíquota unificada de 3,5% até pelo menos 2029. Com isso, essas mudanças no IOF trazem impactos diretos para diversas categorias econômicas e exigem atenção redobrada.
Para empresas: crédito mais caro e efeito cascata nas operações
Para os Correspondentes, Fintechs e Instituições Financeiras, esse novo cenário também representa um desafio significativo. O aumento do IOF está também relacionado ao custo de captação e, portanto, incide diretamente nas transações que realizam, reduzindo a margem de lucro.
Bancos e Fintechs terão que gerenciar os custos, porque os juros do crédito consignado INSS em 1,85%, a taxa Selic ainda elevada e agora a incidência de IOF mais alto na captação, poderá afetar a capacidade de oferecer crédito competitivo e acessível. Pode-se esperar impactos no repasse de comissão aos Correspondentes nesse novo cenário.
Além disso, a redução da margem operacional ocorre justamente em um período de alta demanda por crédito estruturado, aumentando a pressão sobre os resultados financeiros dessas instituições.
De uma forma geral, as mudanças no IOF trouxeram impacto severo ao setor produtivo. Isso porque as novas alíquotas sobre operações de crédito aumentam o custo para financiar capital de giro, antecipar recebíveis e manter o fluxo de caixa:
- Empresas em geral:
- 0,95% na contratação;
- 0,0082% ao dia → até 3,95% ao ano;
- Empresas do Simples Nacional e MEIs (em operações até R$ 30 mil):
- 0,38% na contratação;
- 0,00274% ao dia → até 1,95% ao ano.
Além disso, modalidades como Forfait e Risco-Sacado agora são formalmente classificadas como operações de crédito e, portanto, tributadas. Cooperativas com operações acima de R$ 100 milhões por ano também perdem a isenção.
A Febraban estima que o custo efetivo do crédito subirá até 40%, o que pode forçar empresas a reduzir investimentos, renegociar dívidas ou repassar aumentos ao consumidor final. Setores como varejo, agronegócio e construção civil, mais dependentes de crédito, serão os mais afetados.
Exemplo prático:
Uma empresa que contratava um crédito de R$ 100 mil, antes pagava até R$ 1.880 de IOF por ano. Agora, esse custo pode chegar a R$ 3.950 — um aumento de 110%.
Fintechs em ascensão: oportunidade e ameaça diante do novo IOF
O mercado brasileiro tem testemunhado uma verdadeira explosão no surgimento de fintechs e operações de crédito. Essas empresas têm desempenhado papel fundamental na inclusão financeira, oferecendo soluções inovadoras e acessíveis a públicos antes desassistidos pelos bancos tradicionais. Entretanto, o novo cenário tributário imposto pelas mudanças no IOF representa uma ameaça concreta a esse avanço.
Diferente dos grandes bancos, muitas fintechs operam com capital limitado, estruturas mais enxutas e ainda na etapa da construção da sua carteira, o que dificulta a absorção do aumento de custos. Como o IOF incide em diversas etapas das transações financeiras, o impacto direto pode comprometer a viabilidade de produtos com margens reduzidas ou estratégias agressivas de crescimento.
Além disso, a necessidade de manter competitividade em um mercado já acirrado exige rápida adaptação dos modelos de negócio, o que nem sempre é viável para startups em fase inicial.
Assim, mesmo com o impulso recente na criação de novas fintechs, o risco de inviabilidade econômica cresce — especialmente para as recém-lançadas que ainda não se consolidaram. O aumento do IOF, aliado à pressão por inovação e sustentabilidade financeira, pode frear esse movimento promissor de bancarização e inovação digital no setor de crédito.
Qual o impacto financeiro e nos investimentos no Brasil?
As mudanças no IOF também afetam o ambiente macroeconômico. Consequentemente, tornam operações internacionais mais onerosas, desestimulam remessas para o exterior e afastam investidores estrangeiros. Isso impacta a atratividade do Brasil no cenário global, além de pressionar o câmbio e a bolsa. Fundos nacionais que investem fora do país tiveram isenção mantida após recuo do governo, mas o sinal de instabilidade preocupa analistas.
Para consumidores e contribuintes: o que muda no bolso?
As mudanças no IOF alteraram a tributação de operações comuns, afetando diretamente a vida financeira de brasileiros que viajam, investem ou enviam dinheiro ao exterior:
- Cartões internacionais: o IOF passou de 3,38% para 3,5% em todas as compras com crédito, débito ou cartões pré-pagos usados fora do país;
- Compra de moeda estrangeira em espécie: aumentou de 1,1% para 3,5%;
- Remessas ao exterior para contas próprias e familiares: agora tributadas em 3,5%;
- Previdência privada (VGBL): aportes mensais acima de R$ 50 mil passam a pagar IOF de 5% (adiada para 25 de junho);
- Empréstimos externos de curto prazo (até 364 dias): voltam a ser tributados em 3,5%;
Além disso, operações que permanecem isentas incluem: crédito estudantil, financiamentos habitacionais, FINAME, exportações, cooperativas com volume inferior a R$ 100 milhões, programas sociais e devolução de IOF indevido.
Essas mudanças no IOF impactam diretamente os custos de viagens internacionais, intercâmbios, compras em sites estrangeiros e planejamento de aposentadoria. Ainda que você não utilize essas operações, pode ser indiretamente afetado, já que empresas podem repassar os custos maiores aos consumidores.
Dicas para mitigar os impactos:
- Portanto, planeje compras internacionais com antecedência;
- Use sites que aceitam pagamento via Pix ou boleto bancário;
- Troque pontos de cartão por passagens ou produtos;
- Antecipe aportes em VGBL para evitar a nova tributação que entra em vigor no dia 25 de junho.
Shutdown: o alerta fiscal do governo sobre o decreto do IOF
Diante da resistência no Congresso e da possibilidade de revogação do decreto, o governo alertou para o risco de “shutdown” da máquina pública. A retirada da medida pode elevar o contingenciamento de despesas de R$ 31,3 bilhões para mais de R$ 50 bilhões, afetando programas como:
- Bolsas do CNPq e Capes;
- Farmácia Popular;
- Pronatec;
- Bolsa-atleta;
- Fiscalizações do Ibama e Ministério do Trabalho;
- Obras de infraestrutura e contratos de serviços essenciais.
O termo “shutdown” refere-se à paralisação dos chamados gastos discricionários — ou seja, tudo que está fora das despesas obrigatórias previstas na Constituição. Isso inclui bolsas de pesquisa, programas sociais, manutenção de serviços e investimentos públicos. Por consequência, a máquina pública operaria no limite, com prejuízos diretos à população e ao ambiente de negócios.
Conclusão: planejamento e adaptação são essenciais diante das mudanças no IOF
As mudanças no IOF reforçam a necessidade de planejamento financeiro para indivíduos e empresas. Portanto, para o consumidor, é hora de rever hábitos de consumo internacional e estratégias de previdência. Para o mercado de crédito, o momento exige ajustes em políticas de repasse, análise de risco e operações estruturadas. A atenção às mudanças legais e à pressão fiscal é essencial para evitar surpresas no orçamento e preservar a competitividade.
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Fonte: CNN, G1, Exame, Valor Investe, Seu Dinheiro, InfoMoney